Embora a gripe ou influenza seja uma das mais antigas doenças virais conhecidas, esta tem se configurado como importante preocupação em saúde na era atual. Desde a pandemia de influenza A (subtipo H1N1) em 1918, conhecida como Gripe Espanhola, a comunidade internacional tornou-se consciente do potencial de ameaça global da doença. Já naquela época, o deslocamento internacional de pessoas, representado por ondas migratórias e pela Primeira Guerra Mundial, resultou em dispersão mundial do vírus em um curto espaço de tempo.
Mais recentemente, as epidemias de vírus influenza A subtipo H5N1 em 2006, conhecida como gripe aviária, e subtipo H1N1 modificado (A/CALIFORNIA/04/2009) em 2009 ampliaram a preocupação dos sistemas de saúde ao redor do mundo quanto ao potencial pandêmico de subtipos do vírus A. A facilidade de deslocação territorial e a grande circulação de pessoas, características do mundo moderno, poderiam contribuir para a rápida dispersão do vírus, como ocorreu nos casos citados.
Frente a este histórico, o anúncio da ocorrência de quadro infeccioso grave causado por um novo subtipo do vírus influenza A aviário, H7N9, por médicos chineses reacende os sinais de alerta quanto ao risco de nova pandemia. Associe-se a isto a forma muitas vezes pouco adequada em que os temas de saúde são tratadas pela mídia e temos um agravamento do temor da população leiga, resultando em constantes questionamentos sobre o tema aos médicos assistentes.
Em primeiro lugar, é preciso estabelecer se realmente existem motivos para preocupação global quanto ao novo subtipo. A princípio, a resposta seria que evidências médicas, especialmente quanto ao potencial pandêmico do vírus, ainda são limitadas. São ainda necessárias informações sobre a ocorrência de transmissão sustentada entre humanos e sobre a dinâmica de transmissão, como modos de ocorrência e período de incubação.
Contudo, a caracterização genética do novo subtipo demonstrou alguns pontos que podem trazer preocupação para a saúde pública. O sequenciamento genético do vírus A H7N9 sugere tratar-se de um vírus influenza A aviário de baixa patogenicidade, causando infecção assintomática ou doença leve nos hospedeiros aviários. Isto permitiria sua dispersão silenciosa como epizootia, diferente do vírus A H5N1, responsável por alta letalidade em aves infectadas.
O sequenciamento também demonstrou que este novo vírus pode ser mais adaptado à infecção de mamíferos que outros vírus de influenza aviária, com a expressão de proteínas que facilitam a infecção do trato respiratório em mamíferos e que produzem resistência a alguns antivirais. Além disso, a falta de testes diagnósticos com sensibilidade suficiente para identificar o novo vírus também pode constituir um problema na resposta a uma possível epidemia, necessitando de rápido desenvolvimento e validação de testes específicos para este subtipo.
A emergência deste novo subtipo, que, segundo autoridades chinesas, já foi confirmado em 82 casos com 17 mortes, demonstra a importância da constante vigilância epidemiológica humana e animal. Entretanto, segundo Uyeki et al. (2013), a detecção de infecções humanas pelo vírus H7N9 ainda é uma advertência de que devemos continuar a nos preparar para a próxima pandemia de influenza.
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