16/09/2013

É possível sermos jovens eternamente?


Em 1513, Juan Ponce de León descobriu a Flórida ao buscar a Fonte da Juventude. Nos últimos anos, nenhum território foi descoberto, mas a indústria farmacêutica encontrou um filão bastante lucrativo na tentativa de prolongar a juventude e evitar o envelhecimento. Surge a "Medicina anti-aging", fundada na noção de que seja possível retardar, ou até mesmo evitar, o envelhecimento com a adoção de certos comportamentos. Como mudanças no estilo de vida não agradam e não podem ser comercializadas, as principais propostas se concentram na reposição de substâncias. Vitaminas, hormônios e micronutrientes já foram anunciados como modernas fontes da juventude. 

Em primeiro lugar, por que devemos desconfiar do anti-aging, se ele busca atender um sonho comum da humanidade? Basicamente, porque ele contradiz nossos principais conceitos atuais sobre senescência. A teoria prevalente entre os biólogos modernos afirma que as células diploides possuem um número limitado de divisões celulares (fenômeno Hayflick) e que estas, ao longo do tempo, sofrem um processo acumulativo de mudanças moleculares que acabam por interromper o metabolismo, resultando em degeneração e morte. Células que se dividem indefinidamente e que não morrem com o acúmulo de lesões em sua estrutura molecular são, a rigor, células cancerosas.

O envelhecimento ou senescência é entendido como um processo natural que ocorre tanto a nível do organismo quanto da célula, sendo universal entre os organismos diploides e geneticamente programado. Neste sentido, impedir o envelhecimento seria semelhante a evitar outras fases da vida, como infância e adolescência. Algo que talvez só seja possível na literatura fantástica, em histórias como a de Peter Pan.

Além disso, não existem evidências científicas suficientes para comprovar a eficácia da reposição de quaisquer substâncias, especialmente hormônios, como DHEA e GH, para retardar a senescência. A maioria destas pedras filosofais modernas não passou por estudos científicos com metodologias adequadas que comprovassem sua eficácia em retardar o envelhecimento e as que passaram não tiveram resultados positivos.  Neste ponto, o Conselho Federal de Medicina é bastante claro no parecer CFM nº 29/12, resultante do processo-consulta CFM nº 4.690/11: 

"A falta de evidências científicas de benefícios e os riscos e malefícios que trazem à
saúde não permitem o uso de terapias hormonais com o objetivo de retardar, modular ou prevenir o processo de envelhecimento".   

É preciso, contudo, diferenciarmos o envelhecimento fisiológico do patológico, uma vez que este último pode em certa medida ser evitado. O envelhecimento fisiológico é um processo inexorável, irreversível e que se caracteriza pela maior vulnerabilidade às condições do meio interno e externo, sem contudo representar adoecimento ou redução considerável da funcionalidade. O envelhecimento patológico, ao contrário, constitui-se de alterações resultantes de traumas e doenças que ocorrem ao longo da vida, determinado perda da capacidade funcional do indivíduo. O gráfico abaixo explica esta diferença:




Os principais determinantes de qual processo de envelhecimento predominará são a hereditariedade e os fatores ambientais, principalmente os relacionados ao estilo de vida. Existem um número considerável de evidências científicas que apontam que uma série de medidas comportamentais podem contribuir para minimizar o risco de envelhecimento patológico. A receita é bem simples, nada milagrosa: ter uma dieta adequada, praticar exercícios físicos, controlar o peso, evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool, proteger-se da exposição solar, manter-se mental e fisicamente ativo, tratar doenças metabólicas crônicas.

Contudo, como nada disto pode ser comprado na farmácia e tomado uma vez por dia, a busca pelo medicamento que garantirá a eterna juventude continua.

Veja a conferência do TED sobre o tema:

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