"Não apenas em casas de camponeses, mas também em arranha-céus nas
cidades, vivem lado a lado o século XX e o XIII. Cem milhões de pessoas usam
eletricidade e continuam a acreditar nos poderes mágicos de sinais e
exorcismos... Estrelas de cinema visitam médiuns. Aviadores que pilotam
mecanismos miraculosos criados pelo gênio humano usam amuletos em seus casacos.
Que inextinguível reserva eles possuem de escuridão, ignorância e
selvageria!"
Leon Trotsky
Embora
Trotsky se refira neste trecho à Alemanha do início do governo nazista, podemos
aplicar esta citação aos nossos dias sem muito esforço. Afinal, você já deve
ter encontrado alguém que acredita em algo claramente contrário aos conceitos
defendidos pela ciência, como poder das pirâmides, astrologia, ufologia e
muitos outros. Não é difícil, mesmo no meio acadêmico e médico, encontrar
pessoas que creem naquilo que pode ser considerado pseudociência, isto é,
crenças que são apresentadas sob falso verniz científico, mas que, a rigor, não
podem ser demonstradas pela experimentação.
Mas, você
já pensou no que essas crenças significam para o conhecimento científico e a
evolução da civilização? É precisamente este ponto que o astrônomo
norte-americano Carl Sagan (1934-1996) aborda em seu artigo Does Truth
Matter? Science, Pseudoscience, and Civilization (A verdade importa?
Ciência, Pseudociência e Civilização), publicado na revista Skeptical
Inquirer Volume 20.2, March / April 1996.
Em seu
trabalho como divulgador da ciência, Sagan produziu mais de 600 artigos
científicos e mais de 20 livros, boa parte deles destinados a promover o
ceticismo na investigação científica e a adoção criteriosa do método
científico. Does Truth Matter? é um exemplo magnífico deste
trabalho. Opondo-se à superstição e falta de comprovação que caracterizam as
mais diversas formas de pseudociência, o artigo busca construir uma
defesa da verdadeira ciência, fundamentada no trabalho incansável e
constante de inúmeros profissionais guiados pelo método científico.
Segundo
Sagan, o apego de muitas pessoas à pseudociência pode ser explicado pelo fato
dela responder a algumas necessidades emocionais geralmente não atendidas pela
ciência. De forma geral, o contínuo progresso da ciência tem contribuído para a
desconstrução do antropocentrismo, isto é, tem inviabilizado a manutenção da
noção de que nossa espécie ocupa um lugar especial na natureza. Ao dar vazão
a nossas fantasias sobre poderes pessoais, sobre formas mágicas de cura
ou sobre a vida após a morte, a pseudociência seria uma forma de reafirmar
nossa importância cósmica, apregoando nossa íntima e especial ligação com o
universo.
Entretanto,
como o próprio título do artigo informa, seu objetivo não se limita a criticar
a pseudociência, mas faz uso deste exemplo para demonstrar a importância da
busca pela verdade como meio de crescimento para a humanidade, destacando o
papel da ciência como guia neste processo. Como nos lembra Sagan,
"Claramente,
não há como retornar. Goste ou não, nós estamos atrelados à ciência. Seria
melhor que aproveitássemos o máximo dela. Quando nós finalmente a
aceitarmos e reconhecermos integralmente sua beleza e seu poder, nós
descobriremos finalmente, em um sentido tanto espiritual quanto prático, que
nós fizemos uma enorme barganha a nosso favor."
E para
você, a verdade importa? Leia o artigo na íntegra em:
Sobre a importância da ciência, veja ainda este discurso do também astrônomo norte-americano Phil Plait ilustrado com a brilhante arte do cartunista Gavin Aung Than do ZenPencils (altamente recomendável!):
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