De forma abrangente, a definição de lesões por causas externas engloba tanto dano físico causado por transferência aguda de energia ou pela ausência aguda de calor e oxigênio bem como dano que resulte em prejuízo psicológico, mal desenvolvimento ou síndrome carencial. Embora as lesões correspondam a um importante problema de saúde pública, estando entre as principais causas de mortalidade e morbidade ao redor do mundo, o tema é comumente esquecido pelos currículos das escolas médicas e pelas pesquisas em saúde.
Para termos uma ideia da dimensão do problema, segundo revisão recentemente publicada no New England Journal of Medicine (Norton R e Kobusingye O. Injuries. N Engl J Med 2013 - ver link abaixo), o número total de mortes em 2010 por lesões por causas externas foi maior que o número de mortes por HIV/AIDS, tuberculose e malária somadas, sendo atribuíveis a lesões cerca de 1 em cada 10 mortes no mundo. Em países em desenvolvimento, como o Brasil, o impacto das causas externas na morbimortalidade é maior que nos países desenvolvidos, sendo que 89% do total de mortes se deve a lesões por causas externas nos primeiros contra 84% nos últimos.
De acordo com o Ministério da Saúde, apenas nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, 151.283 internações decorreram de lesões por causas externas, o que demonstra o enorme impacto destas sobre o Sistema de Saúde. Ainda segundo o serviço de informações em saúde do Ministério da Saúde, as lesões externas causaram 143.256 óbitos no país em 2007 (ano mais recente com dados publicados), com a seguinte distribuição:
Fonte: Reichenheim ME et al. Violência e lesões no Brasil: efeitos, avanços alcançados e
desafios futuros. The Lancet. Publicado online em: 9 de maio de 2011
É interessante notar que, em nosso país, a proporção de óbitos por homicídios supera a de mortes relacionadas ao trânsito, o que se opõe à tendência mundial segundo a revisão do NEJM, em que a violência interpessoal responde por 9% das mortes relacionadas a causas externas contra 27.5% causados por acidentes de trânsito .
Tendo em vista o impacto social e econômico das lesões e de suas diferentes causas, deveria ser preocupação central na formação médica o treinamento dos futuros profissionais não somente para atender a emergências e traumas, mas também para atuar na prevenção destas condições. Infelizmente, a falha das escolas médicas ainda é enorme em ambos aspectos. Os temas de Medicina de Emergência e Traumatologia são pouco abordados nos currículos, e quando o são, geralmente estão dissociados de vivência prática, sendo comum que muitos médicos sejam formados sem o conhecimento básico para atender situações emergenciais, principalmente relacionadas a causas externas.
http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1109343?query=featured_home
http://download.thelancet.com/flatcontentassets/pdfs/brazil/brazilpor5.pdf
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